Por Redação
O primeiro seminário do Fórum Democrático de Desenvolvimento Regional (FDDR) foi realizado nesta segunda-feira, 2 de junho, no auditório da Receita Federal em Rio Grande, reunindo especialistas, lideranças políticas, empresariais e representantes da sociedade civil. O encontro, que teve como tema Pacto RS 25: o crescimento sustentável é agora, propôs reflexões e soluções sobre desenvolvimento regional frente aos desafios climáticos e sociais que afetam o Rio Grande do Sul.
Com abertura cultural do grupo Nosso Choro, o evento iniciou uma série de debates conduzidos pelo jornalista Rodrigo Lopes, com painéis que abordaram desde inovação e cultura até sustentabilidade, economia e políticas públicas.
O desafio da sustentabilidade e do desenvolvimento justo
Durante a mesa oficial, autoridades como a vice-prefeita de Pelotas, Daniela Brizolara, e o prefeito de São José do Norte, Neromar Guimarães, enfatizaram a necessidade de alinhar desenvolvimento econômico à preservação ambiental. “O desenvolvimento econômico e a sustentabilidade são a mesma pauta”, afirmou Brizolara. Para Guimarães, “a pauta das mudanças climáticas é inesgotável e precisa ser tratada com urgência”.
Já o prefeito de São Lourenço do Sul, Zelmute Maten, destacou os entraves fiscais para o financiamento de políticas públicas voltadas à mitigação dos efeitos de eventos climáticos extremos. “Os recursos públicos precisam obedecer ao arcabouço fiscal, o que dificulta negociações multilaterais”, alertou.
Mudanças climáticas e o impacto sobre o RS
O deputado estadual Zé Nunes (PT) trouxe dados preocupantes: “A produção de alimentos no RS caiu ou estagnou na última década”. Já seu colega Halley Lino (PT) levantou a urgência de discutir temas como o uso de agrotóxicos, alternativas à monocultura e o papel do hidrogênio verde. Ele também ressaltou a necessidade de aproximar a academia das comunidades locais.
No âmbito federal, o deputado Alexandre Lindemeyer (PT) chamou a atenção para projetos portuários que impactam áreas sensíveis do litoral. “Rio Grande tem o quarto maior porto do país, mas precisa de apoio para enfrentar os custos logísticos e ganhar competitividade”, afirmou.
O papel das universidades e o conhecimento como bem público
O painel Inovação, cultura e mudanças climáticas deu destaque ao papel das universidades no desenvolvimento sustentável. O pró-reitor da UFPel, Fábio Garcia Lima, destacou a importância da extensão universitária e da economia solidária. “Precisamos considerar os ODS, especialmente os de igualdade racial, arte, cultura, educação e povos originários”, disse.
A professora Débora Medeiros do Amaral, da Furg, lembrou que a emergência climática alterou a rotina das comunidades e reforçou a necessidade de disseminar o conhecimento acadêmico. “Estamos desacomodados do nosso lugar seguro. As instituições de ensino devem ser agentes ativos na transformação social”, afirmou.
Ronaldo Maciel, da Emater, abordou os impactos diretos das alterações climáticas, como perdas de safras e escassez de água nas zonas rurais. “El Niño e La Niña trazem alternância entre estiagens e enchentes, afetando fortemente a produção agrícola e o bem-estar das populações do campo”, explicou.
Transição energética e oportunidades na indústria
Waldyr Stumpf Jr, chefe geral da Embrapa Clima Temperado, apresentou o programa Recupera RS, destacando a importância da inovação no campo. “Agricultura se faz com inteligência, inovação e com as pessoas”, resumiu. Ele também alertou para a falta de estrutura para pesquisas agropecuárias, essenciais para o estado.
João Luís Sombreiro Bulla, da Refinaria Riograndense, apresentou o projeto da futura biorefinaria no estado, com previsão de operação em 2028. “Queremos ser os primeiros a produzir querosene sustentável e diesel verde no Brasil. O desafio é garantir a certificação da origem renovável dos produtos”, apontou.
Cultura como motor econômico sustentável
O eixo Cultura destacou o audiovisual como uma das alternativas de desenvolvimento econômico regional. A professora Raquel Ferreira, do IFRS, lembrou que o setor representou R$ 24,5 bilhões para o PIB nacional em 2019 e defendeu investimentos contínuos. “A Lei Paulo Gustavo trouxe recursos fundamentais. Precisamos pensar o audiovisual como uma engrenagem econômica e cultural”, afirmou.
Alexandre Mattos Meireles, do coletivo Macumba Lab, reforçou que o cinema pode gerar empregos, fortalecer a identidade local e diversificar a economia. “Festivais, mostras e produções audiovisuais colocam a região em evidência e criam oportunidades sustentáveis. O cinema é mais do que arte: é uma cadeia produtiva e uma ponte com o futuro”, disse.
Encerramento com foco na construção coletiva
O presidente da Assembleia Legislativa, deputado Pepe Vargas (PT), encerrou os painéis lembrando a trajetória do Fórum Democrático desde 1999. “O RS já ultrapassou a média de temperatura global, e os cientistas não sabem se será possível recuperar os patamares anteriores. Precisamos agir agora”, alertou.
Ele defendeu uma retomada do planejamento estratégico estadual, combinando recuperação econômica e sustentabilidade. “A adesão ao novo programa de pagamento das dívidas pode dar fôlego fiscal. Mas é essencial pensar na transição energética e em sistemas produtivos sustentáveis. Temos capacidade para liderar na energia eólica, por exemplo”, afirmou.
O deputado finalizou lembrando que o Fórum busca construir políticas públicas com base no diálogo entre sociedade civil, governo e academia. “Esse é o momento de pensar coletivamente e agir com responsabilidade para garantir um futuro viável”, concluiu.