Celebração tradicional fortalece a cultura afro-brasileira no Rio Grande do Sul
O Balneário Cassino, em Rio Grande (RS), foi palco de uma das maiores manifestações culturais e religiosas do estado no último fim de semana. Entre os dias 1º e 2 de fevereiro de 2025, a 50ª Festa de Iemanjá reuniu milhares de fiéis, turistas e admiradores da cultura afro-brasileira. O evento, organizado pela União Riograndina de Cultos Umbandistas Afro-brasileiros Mãe Iemanjá (URUMI), contou com o apoio da Prefeitura do Rio Grande e a presença de lideranças religiosas, autoridades municipais e parlamentares.
As festividades começaram na noite de sábado, 1º de fevereiro, com a tradicional procissão luminosa. A caminhada, repleta de simbolismo e devoção, percorreu a Avenida Rio Grande, levando fiéis carregando velas e entoando cânticos até o monumento de Iemanjá. No local, a cerimônia de abertura foi marcada por apresentações culturais e artísticas que destacaram a riqueza das tradições de matriz africana.
Ainda na noite de sábado, diversas atividades foram realizadas em tendas montadas no Campo do Praião e na praia. Atendimentos espirituais, oferendas e rituais movimentaram o espaço, proporcionando momentos de fé e conexão entre os participantes. Uma das partes mais emocionantes da celebração foi o momento das oferendas no mar. Os devotos, vestindo roupas brancas e com gestos de gratidão e esperança, entregaram rosas, perfumes e pequenos barcos decorados com bilhetes, pedidos e agradecimentos. As velas acesas à beira-mar iluminaram a noite de Lua crescente, criando um cenário de intensa espiritualidade.
A Festa de Iemanjá tem um significado profundo para os praticantes das religiões afro-brasileiras. A celebração no Balneário Cassino reforça o respeito e a preservação das tradições culturais e religiosas da região, sendo um momento de fé e resistência.
As homenagens a Iemanjá seguiram até o amanhecer de domingo, 2 de fevereiro, data consagrada à Rainha do Mar no calendário nacional. Durante toda a madrugada, grupos religiosos realizaram cânticos e oferendas, renovando a tradição que já atravessa meio século em Rio Grande.
A Festa de Iemanjá é um dos eventos mais aguardados do verão no litoral sul do Brasil. Além de ser uma expressão religiosa, atrai turistas e moradores que desejam vivenciar a cultura local e sua diversidade.
Para garantir o sucesso do evento, diversas secretarias municipais colaboraram na organização, reforçando a segurança e os serviços de saúde. O planejamento envolveu a presença da Guarda Municipal, Brigada Militar e equipes médicas, garantindo um ambiente seguro para todos os participantes.
Além disso, ações de conscientização ambiental foram promovidas para minimizar o impacto da festa na praia. Voluntários e agentes públicos orientaram os fiéis sobre a importância de recolher materiais utilizados nas oferendas, reforçando o compromisso com a preservação ambiental.
A 50ª Festa de Iemanjá no Balneário Cassino reafirmou sua importância como uma das principais celebrações do Rio Grande do Sul, promovendo a valorização das tradições afro-brasileiras e fortalecendo a diversidade cultural do país.
A cada ano, o evento se consolida como um momento de fé, união e respeito às crenças, atraindo pessoas de diferentes origens e religiões para celebrar a Rainha do Mar.
A Festa de Iemanjá no Balneário Cassino, em Rio Grande, é uma celebração que destaca o sincretismo religioso presente na cultura brasileira. Embora não haja registros específicos de um encontro simbólico entre as imagens de Iemanjá e Nossa Senhora dos Navegantes durante as festividades no Cassino, essa união é observada em outras localidades do Rio Grande do Sul. Por exemplo, em Pelotas, na Praia do Laranjal, ocorre o encontro das duas imagens na Lagoa dos Patos, simbolizando a integração entre as tradições afro-brasileiras e católicas.
O encontro simbólico entre Iemanjá e Nossa Senhora dos Navegantes na Festa de Iemanjá tem raízes profundas no sincretismo religioso brasileiro, especialmente no Rio Grande do Sul. Durante o período colonial, os povos africanos escravizados, ao serem forçados a adotar o catolicismo, associaram suas divindades aos santos católicos para preservar suas crenças dentro das novas imposições religiosas. Foi nesse contexto que Iemanjá, a poderosa mãe das águas e protetora dos oceanos nas religiões afro-brasileiras, passou a ser sincretizada com Nossa Senhora dos Navegantes, a padroeira dos navegantes e protetora dos mares no catolicismo.
Essa fusão de crenças resultou em celebrações conjuntas que atravessaram gerações. Em várias partes do Brasil, especialmente no Rio Grande do Sul, os festejos de ambas as figuras ocorrem no mesmo dia, 2 de fevereiro. Em algumas localidades, como na Praia do Laranjal, em Pelotas, há um momento especial em que as imagens de Iemanjá e Nossa Senhora dos Navegantes se encontram na Lagoa dos Patos, simbolizando essa comunhão entre tradições diferentes, mas que compartilham o mesmo respeito pelo mar e pela fé.
Embora esse encontro não esteja registrado como uma tradição oficial da Festa de Iemanjá no Balneário Cassino, a presença de elementos católicos dentro da festividade reflete esse sincretismo.
Muitos devotos que participam das homenagens à Rainha do Mar também reverenciam Nossa Senhora dos Navegantes, reforçando a diversidade religiosa que marca a cultura brasileira. O evento, além de ser uma manifestação de fé, também é um lembrete da resistência e adaptação das religiões afro-brasileiras ao longo da história.